A Apresentação do Senhor na liturgia do dia 02 de fevereiro 40 dias após o Natal ainda é festa natalina. É ponto culminante do Natal, pois mostra o horizonte final da Encarnação. Cristo foi apresentado no Templo de Jerusalém em cumprimento à lei dos primogênitos. “Javé disse a Moisés: consagra-me todo primogênito; as primícias de todo o seio entre os israelitas tanto dos homens como dos animais são minhas.” Êxodo, 13,1-2. O evangelista Lucas relata o episódio em 2, 22-24. Maria vai cumprir a lei da consagração do primogênito e a da purificação da parturiente, exigida no livro do Levítico, cap. 12. Os comentários pastorais costumam ver nesse gesto um exemplo de cidadania. Maria e José sujeitam-se humildemente às leis do seu povo. Ora, embora consciente de sua excepcional virgindade na concepção puríssima do Filho do Pai eterno, Maria não cumpre as leis propriamente para nos dar exemplos de cidadania. Isso ela o fez em tudo o que viveu. A mensagem da Palavra é mais profunda. A Virgem está aqui assumindo um serviço pessoal e único no significado bíblico desse ato que focaliza a estreita união da mãe com a obra salvadora do Filho, no Projeto do Pai. Obedecendo às leis do seu povo associa-se ao Filho na sua missão libertadora de todos os povos como Luz das nações!
Na consagração o rito previa o resgate do direito de primogenitura. O filho primogênito pertencia a Deus. Oferecendo o sacrifício legal os pais readquiriam esse direito. Desse modo perpetuava-se a memória da libertação da escravidão no Egito. No Templo Maria fez a oferenda ritual. Virgem oferente do Filho Unigênito do Pai e primogênito na carne dela. Oferece o homem gerado em suas entranhas virginais e ao mesmo tempo Verbo eterno. A apresentação pré-anuncia o sacrifício da vítima pascal do Calvário. Lá no passado Abraão, posto à prova por Deus, ia sacrificar Isaac seu filho único e o herdeiro das promessas do Senhor. Isaac foi poupado na hora crucial, Jesus não o seria. Oferecer é renunciar. Toma parte na cena bíblica de Lucas um antigo servidor do Templo: Simeão. Ele abraçou a criancinha, identificou nela o Messias tão esperado, louvou a Deus e parabenizou Maria e José. Mas, profetizou a renúncia: Este menino será sinal de contradição; queda para uns e salvação para outros. A espada de dor transpassaria o coração da mãe.
O Salvador, glória do povo eleito e luz dos povos iniciava seu caminho como “vítima santa e agradável a Deus”. Abraão e o jovem Isaac desceram do monte sem consumar o sacrifício da vida. Maria sai do Templo com o bebezinho no colo já prevendo o drama messiânico do Calvário como uma espada em seu coração. A Apresentação começara a tingir de sangue o seu papel, indissociável do papel de seu Filho. Nisso ela é representante da comunidade cristã que somos nós. Ao benzer as velas hoje, a Igreja nos convida a ir ao encontro de Cristo renovando a fé batismal.
Fevereiro, por excelência, é um mês cheio de atividades e festas litúrgicas. Já em seu início, no dia 02, celebramos a Festa da Apresentação do Senhor no Templo. No dia 03, a memória de São Brás, bispo e mártir, invocado como padroeiro contra os males da garganta. E, neste ano, no dia 13 iniciaremos a Quaresma, nossa caminhada para a Páscoa.
No entanto, sempre quando iniciamos o segundo, e mais curto mês de cada ano, as Missas possuem um momento tão belo e significativo: além da bênção da garganta por intercessão de São Brás, há a bênção das velas. Mas por que abençoamos as velas?
Juntamente com a Festa da Apresentação do Senhor e da Purificação de Maria (a purificação da mulher, pós parto, acontecia 40 dias após o nascimento do bebê menino), a Igreja celebra, no mundo todo, a Festa de Nossa Senhora da Candelária, da Luz, das Candeias, do Bom Sucesso, da Purificação e dos Navegantes.
Tendo presente a realidade de Maria, mãe pura e bela, mãe da verdadeira Luz, é um costume antiguíssimo da Igreja, que sejam abençoadas as velas e que elas sejam distribuídas ao povo.
Qual o significado da vela? Retomando o texto de Mateus, no capítulo 5, em que Jesus proclama que seus seguidores são o sal da terra e a luz do mundo, Ele recorda que o sal tem a função de dar gosto e a vela, de iluminar, de dissipar as trevas. A vela, juntamente com o sal, com água benta, com o crucifixo, o escapulário e demais costumes da piedade popular, como a via-sacra, são o chamados “SACRAMENTAIS”.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que os Sacramentais, por sua vez, “sinais sagrados instituídos pela Igreja, cujo objetivo é preparar os homens para receber o fruto dos sacramentos e santificar as diferentes circunstâncias da vida” (CIC n. 1677).
São João Paulo II dizia, em uma de suas homilias: “Hoje também nós, com as velas acesas, vamos ao encontro d’Aquele que é “a Luz do mundo” e acolhemo-l’O na sua Igreja com todo o impulso da nossa fé batismal.”
Portanto, as velas abençoadas no dia 02 de fevereiro, têm um caráter de história, mas também de fé. Logo iniciaremos a Quaresma, que tal você acender as velas abençoadas durante o período em que Igreja pede que sejamos penitentes, orantes e caridosos?