Na Páscoa, não celebramos um mito ou um grande símbolo: nós celebramos um evento histórico
Este domingo é o Domingo de Páscoa, o dia em que celebramos a Ressurreição do Senhor.
É importante entender o que a Igreja afirma. O psicólogo canadense Jordan Peterson, famoso no YouTube, tem comentado a simbologia da ressurreição como um grande princípio libertador. Por outro lado, ele considera que a questão da ascensão de Jesus dos mortos seria algo “obscuro e complicado.”
Ele está errado. A questão é simples: houve um ponto na história em que Jesus Cristo estava morto e, em seguida, um ponto em que ele estava vivo novamente?
Sobre essa questão, a evidência é muito forte: Sim. Jesus literalmente ressuscitou dos mortos.
1. O argumento da fraqueza de Cristo
É importante observar o modo como a história é contada no Novo Testamento. Não se trata de um “mito da ressurreição”, como a história da Fênix, tal como céticos como Peterson apontam.
Jesus não é apresentado como uma figura mítica todo-poderosa que triunfa sobre os inimigos. Ele parece, na verdade, fragilizado. “Pai, se for possível, afasta de mim este cálice”, diz ele. “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?”, gritou.
Depois da crucificação, não foi a figura heróica de Jesus que brilhou entre seus seguidores, mas a fraqueza. Os Apóstolos só voltaram porque algo realmente extraordinário aconteceu: o líder derrotado deles ressuscitara dos mortos.
2. O argumento da fraqueza dos Apóstolos
Se os apóstolos estavam inventando uma religião, eles não o fizeram da maneira como a maioria dos fundadores de novas religiões fazem. Eles não pareciam grandiosos, nem dignos de respeito. Eles mais pareciam vítimas de um desastre.
Longe de nos mostrar uma comunidade tomada por uma exaltação mística, os Evangelhos nos apresentam discípulos desmoralizados (parecendo tristes) e assustados, diz o Catecismo. Eles não tinham acreditado nas santas mulheres que voltaram do sepulcro. ‘Quando Jesus se manifestou aos onze na tarde de Páscoa, ele censurou-lhes sua incredulidade e dureza de coração.
Se eles estavam fundando uma religião, eles estavam fazendo algo errado, pois estavam justamente dando às pessoas razões para não acreditar neles.
3. A transformação de Saulo
Além dos Doze, temos o caso de São Paulo. Ele passou de perseguidor zeloso a pregador zeloso depois de ver Cristo vivo. Esta transformação extraordinária – de alguém escandalizado com a mensagem cristã transformando-se em seu principal líder – só faz sentido tendo Cristo ressuscitado.
Paulo retorna à sua história pessoal sobre a ressurreição mais de uma vez, e até mesmo quando está sendo julgado. Isso alimenta sua fé; faz toda a diferença para ele. Ele até diz: Se Cristo não ressuscitou, a nossa pregação é vã e vã é nossa fé (1 Coríntios 15, 14).
Ele apostou tudo na ressurreição e nos convidou a fazer o mesmo.
4. Nenhum debate na Igreja Primitiva
A Igreja Primitiva debateu muitos tópicos, até mesmo a natureza da ressurreição, mas não o fato da ressurreição em si. Isso é um fato.
No relato de João, quando ele e Pedro entraram na tumba vazia, veem ali os lençóis do sepultamento, e o lenço que cobria a cabeça enrolado num lugar separado. Para João, essa visão demonstra que Jesus não fora levado embora, não tinha ressurgido como Lázaro. Algo novo acontecera. Diz o Evangelho: ele viu e acreditou.
5. A fé dos mártires
Os cristãos, desde os primeiros dias da Igreja até os nossos dias, estão dispostos a morrer por sua convicção de que Cristo ressuscitou dos mortos. Para eles, a ressurreição não é um sonho doce ao qual eles se entregam, mas uma dura realidade pela qual sofrem e morrem.
Ele foi verdadeiramente ressuscitado dentre os mortos, seu Pai o erguendo, assim como da mesma maneira seu Pai levantará aqueles que acreditarem nele por meio de Jesus Cristo, disse o mártir Inácio. Ele foi dilacerado por leões no ano 108 por acreditar nisso.
Aquele que o ressuscitou dentre os mortos também nos levantará, se fizermos a sua vontade, e andarmos em seus mandamentos, e amarmos o que ele amou, escreveu o mártir Policarpo. Ele foi queimado na fogueira em 155 por suas crenças.
6. Os diferentes relatos
Os escritores dos evangelhos incluíam diferentes detalhes e materiais de diferentes fontes – todos os quais mencionam o fato da ressurreição. Temos a história de Emaús, Tomé provando que Jesus ainda tinha feridas, a história de Maria Madalena e muito mais. Essas histórias atestam o mesmo fato da ressurreição.
Os céticos da Bíblia apontam as discrepâncias entre os vários relatos, enquanto os defensores da Bíblia mostram como eles podem coexistir.
O ponto mais importante é muitas vezes esquecido: a experiência de pessoas diferentes sobre o mesmo evento, não um esforço consciente de um grupo para inventar algo.
7. As testemunhas oculares
Em sua carta aos Coríntios, que muitos estudiosos datam de cerca de 53 d.C., São Paulo falou de como Cristo apareceu, vivo, a 500 pessoas de uma só vez. Se não fosse verdade, seria impossível fazer essa afirmação tão logo após o ocorrido.
Quando Paulo fala sobre a ressurreição outras vezes, há dois fatos que são importantes para ele: que o túmulo estava vazio e que Jesus apareceu para muitos. Ambos são argumentos convincentes pois, caso fossem falsos, seria fácil para o público desacreditar.
8. Relatos históricos não cristãos
Há, na verdade, um pouco de evidência sobre a existência de Jesus em fontes tão antigas como Tácito, Plínio o Jovem, Josefo, o Talmud Babilônico e o grego Luciano de Samosata. Todos eles mencionam vários aspectos da vida de Jesus.
Josefo, historiador judeu, escreveu uma história no ano 93 que menciona que Jesus foi crucificado e apareceu vivo depois para seus seguidores. Embora o texto seja questionado por alguns estudiosos, existem várias versões que retêm o fato essencial de Jesus morrer e, de alguma forma, ressurgir vivo.
Tácito também menciona Jesus, citando sua crucificação como tendo se provado incapaz de deter a “superstição” do cristianismo. O ponto assinalado por Tácito é importante. Afinal, por que a crucificação de Jesus não acabaria com seu movimento religioso? Porque Ele ressuscitou dos mortos.
9. Jesus não morreu novamente
As evidências não só confirmam a ressurreição de Jesus, mas também confirmam sua alegação final, que Ele é divino.
Outros retornaram da morte breve em nosso próprio tempo e da morte mais longa nas histórias do Novo Testamento. A ressurreição de Cristo é essencialmente diferente, diz o Catecismo. Em seu corpo ressurgido, Ele passa do estado de morte para outra vida além do tempo e do espaço. Na ressurreição de Jesus, seu corpo está cheio do poder do Espírito Santo: ele compartilha a vida divina em seu estado glorioso, pelo que São Paulo pode dizer que Cristo é “o homem celeste”.
Jesus ressuscitou para nunca mais morrer.
10. O surgimento de uma religião histórica
O cristianismo se espalhou e cresceu apesar da perseguição, não por causa do poder ou da personalidade dos Apóstolos ou das regalias da fé – os Apóstolos eram fracos e havia penalidades, não regalias – mas por causa da experiência da ressurreição dos primeiros cristãos.
O fato histórico da ressurreição de Cristo, em seu corpo glorificado, é o alicerce de toda dimensão da fé católica.
Algumas considerações:
- Como poderíamos cada um de nós encontrar Jesus, embora não estivéssemos vivos quando ele andava pelas ruas da Palestina? Porque Ele ressuscitou dos mortos e vive hoje.
- Como podemos ter nossos pecados perdoados na confissão? Porque depois da ressurreição Ele soprou sobre os Apóstolos e deu-lhes o poder de perdoar os pecados.
- Por que temos esperança no Céu? Porque Jesus ressuscitou e o abriu para nós.
Na Páscoa não celebramos um mito ou um grande símbolo. Celebramos o evento histórico que é a base de toda a nossa esperança, alegria e felicidade.
Jesus Cristo ressuscitou verdadeiramente. Nossa fé não é em vão.