Papa Francisco recordou “que a doença é mais que um fato clínico, medicamente circunscrita. É sempre a condição de uma pessoa, o doente”.
Mariangela Jaguraba – Cidade do Vaticano
O Papa Francisco recebeu em audiência, nesta sexta-feira (20/09), na Sala Clementina, no Vaticano, a Federação Nacional das Ordens dos Médicos Cirurgiões e Dentistas.
“A medicina, por definição, está a serviço da vida humana, e como tal requer uma referência essencial e imprescindível à pessoa em sua integridade espiritual e material, em sua dimensão individual e social”, ressaltou o Pontífice em seu discurso.
“A medicina está a serviço do ser humano, de todas as pessoas, de cada pessoa”, disse o Papa acrescentando:
“Vocês médicos estão convencidos dessa verdade com base numa tradição muito longa, que remonta às mesmas intuições de Hipócrates. É a partir dessa convicção que surgem suas justas preocupações com as insídias às quais a medicina de hoje está exposta.”
Francisco recordou “que a doença é mais que um fato clínico, medicamente circunscrita. É sempre a condição de uma pessoa, o doente”.
Relacionar-se com o paciente
“É com essa visão integralmente humana que os médicos são chamados a relacionar-se com o paciente, considerando, portanto, sua singularidade de pessoa que tem uma doença, e não apenas a doença que tem aquele paciente. Uma pessoa que tem uma doença.”
“Os médicos devem possuir, junto com a devida competência técnica e profissional, um código de valores e significados com o qual dar sentido à doença e ao próprio trabalho e fazer de cada caso clínico um encontro humano.”
Segundo o Papa, diante de qualquer mudança da medicina e da sociedade, o médico não deve “perder de vista a singularidade de cada enfermo, com a sua dignidade e sua fragilidade. Um homem ou uma mulher que deve ser acompanhado com consciência, inteligência e com o coração, especialmente nas situações mais graves”.
Com esse comportamento, deve-se “rejeitar a tentação, induzida também por mudanças legislativas, de usar a medicina para apoiar um possível desejo de morte do paciente, fornecendo assistência ao suicídio ou causando sua morte diretamente com a eutanásia”.
“Trata-se de caminhos apressados”, ressaltou o Papa, “diante de escolhas que não são, como podem parecer, expressão da liberdade da pessoa, quando incluem o descarte do doente como possibilidade ou falsa compaixão diante do pedido de ajuda para antecipar a morte”.
Respeito absoluto da vida humana
“Não existe um direito de descartar arbitrariamente a própria vida. Portanto, nenhum médico pode ser o guardião executivo de um direito inexistente”, disse Francisco, citando um trecho da Nova Carta aos Agentes de Saúde.
A responsabilidade dos agentes de saúde “é hoje muito maior e encontra a sua inspiração mais profunda e o apoio mais forte precisamente na intrínseca e imprescindível dimensão ética da profissão clínica, como já reconhecia o antigo e sempre atual juramento de Hipócrates, segundo o qual é pedido a cada médico que se comprometa no respeito absoluto da vida humana e da sua sacralidade”, concluiu Francisco com um trecho da Carta Encíclica Evangelium Vitae de São João Paulo II.