O Domingo sagrado de Ramos celebra dois mistérios: (1) a Entrada solene do Senhor Jesus em Jerusalém para viver sua Passagem do mundo para o Pai e (2) o Mistério de sua Paixão, Morte e Sepultura. Daí o título deste dia: Domingo de Ramos e da Paixão. A procissão é de ramos; a Missa é da paixão.
Jesus é saudado como o Rei de Israel, novo Davi, Messias que chega à Cidade de Davi! E Jesus, de fato, é Rei, é Messias! A festa é, em certo sentido, uma festa de Cristo Rei, Rei-Messias! É uma festa de exultação! Mas, estejamos atentos: ele entra na Cidade Santa montado não em um cavalo, que simboliza poder e força, mas entra num jumentinho, usado pelos pobres nos serviços mais humildes e duros. Isto tem muito a nos dizer: Jesus é o Messias, mas um messias pobre, um messias servo, que “não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10,45).
Jesus quer, também, entrar triunfante na vida dos homens, sobre uma montaria humilde: quer que demos testemunho d’Ele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa alegria, com a nossa serenidade, com a nossa sincera preocupação pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano. Antes, quando Jesus vê a cidade de Jerusalém, chora! Jesus vê como Jerusalém se afunda no pecado, na ignorância e na cegueira. O Senhor vê como virão outros dias que já não serão como estes, um dia de alegria e de salvação, mas de desgraça e ruína. Poucos anos depois a cidade será arrasada. Jesus chora a impenitência de Jerusalém. Como são eloquentes estas lágrimas de Cristo.
O Concílio Ecumênico Vaticano II, Gaudium et Spes, nº 22, diz: “De certo modo, o próprio Filho de Deus se uniu a cada homem pela sua Encarnação. Trabalhou com mãos humanas, pensou com mente humana, amou com coração de homem. Nascido de Maria Virgem, fez-se verdadeiramente um de nós, igual a nós em tudo menos no pecado”.
A entrada triunfal de Jesus foi bastante efêmera para muitos. Os ramos verdes murcharam rapidamente. O hosana entusiástico transformou-se, cinco dias mais tarde, num grito furioso: Crucifica-o! Por que foi tão brusca a mudança, por que tanta inconsistência? Nosso querido exemplo no monaquismo, São Bernardo, comenta: “Como eram diferentes umas vozes e outras! Fora, fora, crucifica-o e bendito o que vem em nome do Senhor, Hosana nas alturas! Como são diferentes as vozes que agora o aclamam Rei de Israel e dentro de poucos dias dirão: Não temos outro rei além de César! Como são diferentes os ramos verdes e a Cruz, as flores e os espinhos! Àquele a quem antes estendiam as próprias vestes, dali a pouco o despojam das suas e lançam a sorte sobres elas”.
Quanto a nós, vamos com ele! Os ramos que trazemos nas mãos significam que reconhecemos Jesus como o Messias de Israel, prometido por Deus. Significam também que nos dispomos a segui-lo como o Servo que dá a vida na cruz. Levaremos estes ramos para casa. Devemos guardá-los num lugar visível durante todo o ano, para recordar nosso compromisso de seguir o Cristo num caminho de humildade e despojamento; segui-lo ainda quando não compreendermos bem os desígnios de Deus para nós. Seguir o Cristo, que confia no Pai até a morte e não se cansa de fazer da vida um serviço de amor. Seguir hoje em procissão com os ramos na mão significa proclamar diante do mundo que cremos nesse Jesus fraco, humilde, silencioso, crucificado, loucura para o mundo, mas sabedoria de Deus; fraqueza para o mundo, mas força de Deus!
A Igreja nos lembra que a entrada triunfal vai perpassar todos os passos da Paixão de Cristo. Terminada a procissão mergulha-se no mistério da Paixão de Jesus Cristo: Em Isaías 50, 4-7 – descreve o Servo sofredor, na esperança da vitória final. Vemos nele a própria pessoa de Jesus Cristo. Em Filipenses 2,6-11 temos a chave principal de todo o mistério deste Domingo de Ramos: Jesus humilhou-se e por isso Deus o exaltou!
Nós somos chamados a escolher com que atitude queremos entrar na história da Paixão de Cristo: com a atitude de Cirineu, que se coloca ao lado de Jesus, ombro a ombro, para carregar com Ele o peso da cruz; com a atitude das mulheres que choram, do centurião que bate no peito e de Maria que fica silenciosa ao pé da cruz; ou se queremos entrar com a atitude de Judas, de Pilatos e daqueles que “olham de longe” para ver como irá terminar aquele episódio. Toda nossa vida é, em certo sentido, uma “semana santa” se a vivemos com coragem e fé, na espera do “oitavo dia” que é o grande Domingo do repouso e da glória eterna.