A Cruz permanece em pé – e refulge

A Segunda-Feira da Semana Santa de 2019 se encerrou de modo tristemente surpreendente para os católicos do mundo inteiro, que, perplexos, assistiram ao vivo à grande destruição que se abateu sobre uma das suas mais emblemáticas e queridas catedrais. Nôtre-Dame de Paris ardeu sob as chamas.

Ela será restaurada, como já o foi tantas vezes ao longo dos seus mais de 850 anos de história, embora nunca vá recuperar, obviamente, a parte dos seus tesouros que ali se desintegraram. Voltará a ficar de pé, mas não será mais a mesma.

Ocorre que estas duas frases, unidas literalmente pela “adversidade”, também podem e devem ser ditas na ordem inversa: ela não será mais a mesma, mas voltará a ficar de pé.

Neste mundo, a matéria se transforma e passa, mas o espírito não morre. E nenhuma outra época do ano é tão propícia para nos recordar esta lição quanto a Semana Santa.

Mesmo a Cruz passa, pois vem a Ressurreição. Ainda assim, Ressurreição e Cruz estão de tal forma integradas e unidas que pode até haver cruz sem ressurreição, mas não há Ressurreição sem Cruz.

Bem o sabiam aqueles monges da Grande Cartuxa – franceses, aliás – que apontaram, em meio às figuras deste mundo que passa, o único ponto de referência que une a transitoriedade difusa à luminosa eternidade:
Stat Crux dum volvitur orbis.

“A Cruz permanece em pé enquanto o mundo dá voltas”.

E foi isto o que se viu nesta imagem, impactante e referencial, do meio dos escombros de Nôtre-Dame – que passarão.